domingo, 23 de novembro de 2008

O Estado pouparia cerca de 150 milhões de euros se o mercado dos medicamentos de venda livre

O Estado português pouparia qua­se 150 milhões de euros se o número de medicamentos que não necessitam de receita médica ti­vesse um aumento de 5 por cen­to. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado pela Associação Europeia da Industria da Automedicação (AESGP), desig­nado "O valor económico e de saúde pública da automedicação", onde é feita uma análise do impacto destes medicamentos em sete países da União Euro­peia.
Tendo em conta que 5 por cen­to dos fármacos prescritos pelos médicos estão associados a doenças e sintomas ligeiros, este estu­do tentou avaliar que reflexos teria para a economia e para a saúde pública a sua passagem para a venda livre.
Mas se o aumento do mercado dos fármacos de venda livre em 5 por cento significaria poupança de 150 milhões de euros para o Esta­do, o mesmo não se poderá dizer para os utentes, uma vez que te­riam que ser estes a ter que pagar a factura... O que o estudo não in­dica é o impacto que teria na car­teira do utente.
Tirando de parte os custos, es­ta questão apresenta outra pers­pectiva: a do aumento da automedida. E é precisamente neste pon­to que as opiniões tem divergido. Paulo Sousa, da delegação re­gional da Ordem dos Farmacêuticos, diz que a «automedicação faz todo o sentido se for responsável, se for feita com aconselha­mento de um médico, de um farmacêutico ou por uma pessoa que esteja dentro do assunto». «Não faz sentido a automedicação se for naqueles casos em que as pessoas tomam um medicamento que tem em casa ou porque uma vizinha disse que tal medicamento era bom para o seu problema», acrescentou. Isso é um absur­do», disse, ao explicar que «há que ter cuidado porque as vezes os sintomas são parecidos e as doenças diferentes». «As pessoas podem automedicar-se mas com aconselhamento», diz o farmacêutico, ao considerar que «quando as pessoas fazem a medicação que seja responsável, de maneira a que as pessoas fiquem melhores e não piores, como é lógico», realçou.
Cabe ao instituto responsável pelos medicamentos, que em Por­tugal é o Infarmed, decidir se o fármaco deve ser ou não de venda livre, tendo em conta a relação dos factores benefícios/riscos.
Paulo Sousa apontou como exemplo os pensos para deixar de fumar. O Nicotinell, por exemplo, em França é de venda livre en­quanto em Portugal a sua compra está sujeita a receita médica. Com esta finalidade, o único medicamento cuja venda não está sujeita a prescrição médica é o Nicorette, umas pastilhas que contêm nicoti­na.
Questionado sobre se concor­da ou não com o aumento do mer­cado dos medicamentos de venda livre, Paulo Sousa refere que «es­ta e uma situação em que se pos­sa dizer no geral sim ou não». «Se existem áreas onde se poderia ir mais longe, existem outras onde, se calhar, não se deveria ir tão lon­ge onde se vai», considerou.
Segundo dados da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma), os medicamentos de venda livre representam uma quota de mercado de 8,2 por cento. Dores de cabeça, febre, constipação, gripe, dependência da nicotina são as patologias mais frequentes e que estão relaciona­das com os medicamentos de ven­da livre.

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